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Showing posts from May, 2018

Entre

"...Pois já nada é o que o era. Há pedaços disto e pedaços daquilo, porém nada combina com nada. Mesmo assim, curiosamente, no limite de todo este caos tudo começa a se fundir novamente..." Paul Auster - No País das Ú ltimas Coisas Abandonado por vários anos o conjunto de prédios que abrigou empresas de telefonia se tornou moradia de sem-tetos por 13 dias. No dia 11 de abril de 2014 foram removidos pela tropa de força da PMRJ, em uma ação extremamente violenta. Em 2016, quando visitei o local, ele ainda decantava sua história. Mais do que ruínas de uma guerra, encontrei pequenas pistas, ilhas de integridade deixadas para trás carregadas de memórias e significados. Resgatei-os esvaziados de seus usos convencionais para re-agrup á- los novamente como arquipélagos de matéria. Estes objetos foram recolhidos, fotografados em estúdio. Criei um inventário do que aconteceu naquele lugar, misturando memórias de tempos diversos.

Yes Nós Temos Iglus

As Casas Iglus foram o resultado de um projeto de habitação popular implementado nos anos 50, no bairro de Guadalupe, Rio de Janeiro. Selecionamos aqui, 16 dos 21 exemplares restantes desse tipo de moradia. As imagens inscrevem os iglus na paisagem urbana evidenciando a escala, o desequilibrio da forma, a tensão, a relação conflituosa entre o pertencimento e a inedaquação com o entorno. Essas pequenas e redondas edificações não se inserem no tecido urbano local tradicional, conservando algo improvável, deslocadamente inapropriado. Não há gente nas fotos mas de alguma maneira, elas transmitem uma infinidade de histórias humanas. Um modo indireto de retrato. As áreas externas aqui mostradas traduzem a noção familiar das casas, que vão sendo trabalhadas por cada morador de acordo com suas necessidades, seus valores afetivos, estéticos e sócio-econômicos. Os rastros deixados pelos objetos, revelam um pouco da pulsão de vida de cada local - ativa, quieta, inexistente. Por in...

N.R.A.

O projeto NRA (Nenhuma Resposta Anterior) nasceu do dialogo imagético de Ana Rodrigues e João Paulo Pereira.  No mundo atual a forma de se comunicar vem mudando rapidamente, a palavra escrita vem perdendo espaço para emojis, gifs e memes. Nunca se falou tanto através de imagens como hoje em dia, porém a maioria das pessoas utiliza signos já prontos.  A vontade de criar um léxico próprio formado por imagens deu início ao trabalho. Se expressar através de uma imagem e ler a imagem do outro é um exercício de comunicação. O N.R.A. parte de um diálogo entre dois indivíduos mas procura se identificar com um grande numero de pessoas que compartilham das mesmas necessidades de comunicação, pelos mesmos meios, numa velocidade cada vez maior, num tempo dominado pela economia de palavras e a procura pela síntese gráfica das emoções. Sua primeira versão foi em formato coleção de livros com 3 volumes lançada em 2017. O s dois primeiros volumes fazem parte das exibições Feira do Li...

#minhajanelaminha

# minhajanelaminha  nasceu de uma inquietação. Neste mundo sobrecarregado de tantas fotografias, que ficavam vivas por tão pouco tempo, as pessoas ainda conseguiriam se relacionar com uma imagem? O ritual de despertar, fotografar o amanhecer com o telefone, e postar diariamente foi transformando a minha janela numa janela de todos. Uma comunidade, marco do começo do dia, previsão do tempo, um carinho. Um espaço em que recebi bons dias, palavras carinhosas e as interpretações diversas da vista. Vários motivos para sorrir. Pessoas próximas, pessoas não tão próximas e pessoas que não conheço pessoalmente foram se tornando amigas. Este trabalho é sobre as construções das relações de afeto entre as pessoas através das redes sociais, construções de costumes e troca de gentilezas. O projeto já foi apresentado nas versões aplicativo, video instalação, impressão em lambe-lambe e em tecido, em 05 cidades brasileiras e em Quito, Equado

Banhos

Essa série de a u toretratos é o res ultado do registro de  u ma seq u encia de banhos d u rante seis meses onde as ações  se repetem e se conf u ndem, formando  u m ininterr u pto rito intimo de p u rificação Participou da exposição coletiva "Ritos e Rituais"que foi exposta no Centro Cultural Yves Alves - Tiradentes e Centro Cultural Bernardo Mascarenhas - Juiz de Fora.

Senescencia

Senescência Do latim senescentĭa- , particípio presente neutro plural de senescĕre , «envelhecer» Se distanciar às vezes é necessário para enxergar de outra maneira. Estar em um helicóptero me possibilitou humanizar a terra. Pensar que a vida é gerada pela terra  e é sustentada por ela. De longe pude observar as cicatrizes, rugas, marcas de catapora e outras marcas na pele do planeta que reage à ação dos anos, do tempo e pelo uso de seus habitantes. Começamos sonhando com as estrelas. Ao longo do tempo, nossos pensamentos se viram para a matéria. Ver a terra como a derme do planeta é resignificar seu contexto. A terra é um corpo imutável ou um corpo que envelhece ?

Santo Antonio

Retratos de todos os moradores da comunidade ribeirinha Santo Antonio, Amazonas, e detalhes dos interiores de suas casas. Este trabalho fez parte da coletiva Retratos, que foi exposta no Centro Cultural Yves Alves - Tiradentes, e circulou também pelo Centro Cultural Bernardo Mascarenhas - Juiz de Fora e Espaço Fábrica São Luiz - Itu. Trabalho em parceria com Hans Georg

Cultivar o Jardim

Um jardim é fruto de trabalho. Uma sombra existe pela interposição de algo à passagem da luz. É preciso cultivar o jardim. A sombra aparece no oposto do visível e, por contraste, faz ver. O jardim materializa a natureza domada, posta em limites, ato do desejo de alguém. A sombra guarda semelhança de forma, é um duplo, efeito de causa, índice, remete ao que ela não é, mas que a faz ser. O jardim sugere tranquilidade, contemplação e beleza. A sombra não deixa vestígios que não os inscritos na memória das superfícies. Território de beijos e enlevos de amor, o jardim habita um mundo idealizado. É preciso imaginar o que projeta a sombra. Cultivar o jardim é um trabalho de imaginação. Fernando Schmitt

Explicitamente

Explicitamente "Tudo é uma questão de despertar a sua alma" Gabriel Garcia Marques Cem Anos de Solidão Comprar é uma paixão.  Nada é mais claro e aberto em uma vitrine do que o desejo de seduzir. Os objetos são exibidos para tornarem-se alvos do desejo, cuidadosamente escolhidos para atrair os olhares dos passantes. A paixão precisa ser despertada. Comprar é um ritual que se inicia com o namoro de vitrine, e termina com a decisão da compra, esta decisão cria um laço entre o individuo e o objeto.  O vidro que separa é transparente, e ilusioriamente faz surgir um "caminho" para a paixão, tornando-a possível. Porém o vidro impede o toque, pedindo que  um movimento mais "decisivo" seja tomado. E uma vez que é tomado  o objeto passa a ser possuído. O sentimento de posse faz parte da paixão. A paixão pelas compras costura os diferentes itens expostos, mostrando os caminhos comuns a todos. Possuir faz parte do sentimento da paixão. Ana...

Haikai

Vemos três crianças na beira de um lago, de costas para a câmera. Entre duas meninas, um pequeno garoto se movimenta e sobe na mureta baixa do lago. Ele agora está na altura das meninas e na camisa dele está escrito 43 The King. A série de fotografias de Ana Rodrigues, intitulada Haikai, é baseada no gênero de poesia de origem japonesa, que apresenta uma estrutura simples e concisa. Assim como na linguagem escrita que conta com três linhas, os Haikais de Ana são todos trípticos. Flagrantes de pequenos gestos, as imagens mostradas nos levam a perceber que momentos ordinários quando retirados do fluxo do tempo podem se tornar extraordinários, sendo elevados à potência de acontecimentos. Entretanto, acontecimentos de tal sutileza que quase imperceptíveis para a maioria das pessoas. Ana olha atentamente para essas insignificâncias. Registra o detalhe, o silêncio, reduzindo a velocidade diante à correria cotidiana. A série exposta apresenta contemplações poéticas imersas no di...